22.14 - Medo

abre-se a porta
e de repente tremo
com um medo que me toma
de mansinho

como uma fera amestrada
sinto-o todo
como se me rasgasse
de dentro para fora

e danço rodando fogueiras
em rituais estranhos
agarrando-me a tudo
para não ficar sem nada

arranco-lhe a pele
e amordaço-lhe a boca
e fico gritando vitória
perante os gigantes de pedra

e o peito retoma
o movimento da vida
e sem mais garras
apertando a garganta
sem mais gritos presos

e a cabeça que para
rendendo-se às noites
e abandonando-se nelas
para sonhar novos sonhos

é a vitória de sentir
que já não se tem medo
mesmo tendo pelo que se temer

é uma espécie de coragem
disfarçada de armadura
que nos enrijece a pele

é no fundo a esperança
nos dias que estão para vir